17 setembro 2025

O que é livre arbítrio na perspectiva reformada?

 O livre arbítrio é a capacidade de escolher contrário à sua natureza. Johann Heinrich Heidegger explica que

a companheira da justiça do primeiro homem é a liberdade ou livre-arbítrio, sendo a primeira uma faculdade da alma, pela qual ele livremente, voluntariamente e sem qualquer força externa, escolheu aquilo que percebeu, deliberou e decidiu o que escolheu. Isso não era indiferença em fazer o bem ou o mal, porque lhe era natural fazer o bem, enquanto fazer o mal era contrário à sua natureza. E a liberdade não era imutável. Pois, dessa forma, não haveria lugar para a tentação. Pois a imutabilidade da vontade não pertence à natureza, mas à graça e à glória. A liberdade também não era independente, porque em Deus Adão foi movido (At 17.28). Ele carecia da graça não para curar a corrupção, mas para preservar a integridade, a fim de vencer as tentações do diabo. Em vez disso, a liberdade, juntamente com a deliberação de fazer o bem, era mutável.[1] 

Os reformados concordam com a interpretação de Agostinho sobre os quatro estados da liberdade. Sabemos que

Agostinho ensinava os quatro estágios da libertas naturae [liberdade da natureza], conforme Muller explica que ele é ‘a liberdade que é própria de um ser dada a sua natureza particular’. Os quatro estados da libertas naturae são: 1) libertas Adami [liberdade de Adão]: ‘antes da queda - isto é a capacidade ou poder para não pecar’. 2) libertas peccatorum [liberdade de pecadores]: ‘uma liberdade que é própria e restrita aos limites da natureza caída e é, portanto, uma incapacidade absoluta de fazer o bem, ou para agir para o bem, sendo o pecador incapaz de não pecar’. 3) libertas fidelium [liberdade dos fiéis]: ‘a liberdade daqueles que são regenerados pelo Espírito Santo, que é próprio da natureza regenerada e, é caracterizada pela capacidade para o pecado e para fazer o bem’. 4) libertas gloriae [liberdade de glória]: ‘uma liberdade adequada à natureza redimida integralmente, que, como residentes do reino do céu estão agora caracterizados pela incapacidade para o pecado’. Em outras palavras, os quatro estados do homem em relação ao pecado enumerados por Agostinho de Hipona são: 1) no estado antes da queda, o homem era capaz de não pecar (posse non peccare); 2) após a queda, ele é incapaz de não pecar (non posse non peccare); 3) sendo regenerado ele se torna capaz de não pecar (non posse peccare); e, 4) no estado de glorificação ele será incapaz de pecar (peccare non posse).[2] 

Em suma, a tradição agostiniana/calvinista interpreta a doutrina do livre arbítrio dividindo em quatro modos, por causa dos quatro estados do homem. No primeiro estado a vontade do homem era livre para escolher entre o bem e o mal. No estado caído o homem é livre somente para o mal. O homem nascido de novo, ou o homem em estado de graça, é livre do mal e para o bem, pela graça de Deus somente, mas imperfeitamente. No estado de glória ele será perfeitamente livre do mal para o bem. As confissões reformadas consentem quanto a este assunto.[3] 


NOTAS:

[1] Johann Heinrich Heidegger, The Concise Marrow of Theology (Grand Rapids, Reformation Heritage Books, 2019), p. 46.

[2] Veja o verbete “libero arbitrium” in: Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms: Drawn Principally From Protestant Scholastic Theology (Grand Rapids, Baker Academic, 1996).

[3] Veja, Joel R. Beeke & Sinclair B. Ferguson, Harmonia das Confissões Reformadas (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2006), pp. 56-57 e, também, Veja, Johannes Wollebius, Compêndio de Teologia Cristã (Eusébio, Editora Peregrino, 2020), p. 79.

11 setembro 2025

O Sínodo de Dordt acerca do Sabbath

By R. Scott Clark

 

Sessão 164, em 17 de maio de 1618.

 Regras sobre a observância do Sabbath, ou Dia do Senhor, com o acordo dos irmãos da Zelândia, os seguintes conceitos foram explicados e aprovados por professores doutores em Teologia.

  1. No quarto mandamento da lei divina, parte é cerimonial, parte é moral.
  2. O descanso do sétimo dia após a criação era cerimonial e sua rígida observância peculiarmente prescrita ao povo judeu.
  3. É moral, de fato, porque o dia fixo e duradouro do culto a Deus é designado, para todo o descanso necessário ao culto a Deus e à santa meditação nele.
  4. Com o Sabbath dos judeus tendo sido revogado, o Dia do Senhor é solenemente santificado pelos cristãos.
  5. Desde o tempo dos apóstolos, este dia sempre foi observado na antiga igreja católica.
  6. Este mesmo dia é, portanto, consagrado ao culto divino, para que nele se possa descansar de todas as obras servis (com exceção das que são obras de caridade e de necessidade crucial) e das recreações que impedem o culto a Deus.


Fonte: H.H. Kuyper, De Post-Acta of Nahandelingen van de nationale Synode van Dordrecht in 1618 en 1619 gehouden een Historische Studie (Amsterdam, 1899), 184–186. Traduzido do holandês por R. Scott Clark.